O
delegado titular da divisão de homicídios do DHPP (Departamento de Homicídios e
Proteção à Pessoa) da Polícia Civil de São Paulo, Itagiba Franco, afirmou,
durante entrevista coletiva na tarde desta terça-feira (6), que um colega de
escola de Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini, 13, disse em depoimento que o
adolescente teria confidenciado a ele um plano para matar os próprios pais, o
sargento da Rota (tropa da elite da Polícia Militar) Luís Marcelo Pesseghini e
a cabo da PM Andreia Regina Bovo Pesseghini.
Ambos
foram mortos a tiros nessa segunda-feira (6) na residência do casal, na
Brasilândia, zona norte de São Paulo. A mãe da policial, Benedita de Oliveira
Bovo, 65, e tia de Andreia, Bernadete Oliveira da Silva, 55, também foram
mortas. Narcelo também foi encontrado morto.
Na
entrevista, o delegado leu trecho do depoimento do amigo do filho dos PMs -- de
13 anos e cuja identidade foi preservada --prestado hoje ao lado do pai.
"Desejo manifestado pelo Marcelo: ele sempre me chamou para fugir de casa
para ser um matador de aluguel. Ele tinha o plano de matar os pais durante a
noite, quando ninguém soubesse, e fugir com o carro dos pais e morar em um
local abandonado", afirmou o delegado, citando o trecho do depoimento do
"amigo mais chegado" do adolescente.
O carro
de Andreia Regina, um Corsa sedan, foi encontrado próximo à escola de Marcelo,
na Freguesia do Ó. A polícia acredita que ele tenha ido ao colégio com o carro
da mãe depois de ter cometido os crimes. O delegado disse que o amigo
reconheceu Marcelo em imagens de câmeras de segurança da região nas quais uma
pessoa chegava ao local com o carro, à 1h15 da madrugada de ontem, e o deixava
às 6h30 com uma mochila nas costas.
Uma
professora do garoto afirmou em depoimento à polícia que ontem, na escola,
Marcelo teria perguntado a ela se já havia dirigido carro alguma vez quando
criança e se já teria atingido os pais. Outra professora disse que Marcelo
teria dito que havia dirigido um buggy.
Ainda
conforme o delegado, a chave do carro da policial foi encontrada no bolso da
jaqueta de Marcelo, a qual estava na sala da casa --onde estavam os corpos do
adolescente e dos pais.
"Tudo
vai se encaixando, se fechando", comentou o policial. "Desde o
primeiro momento, sabíamos que não era um homicídio usual", completou,
referindo-se ao fato de que os corpos foram encontrados sem sinais de que
tivessem sido subjugados --característica, disse o delegado, de mortes
executadas por membros de facções. Apenas a mãe do menino, encontrada de
joelhos, não parecia estar dormindo quando morreu.
Segundo
a polícia, o garoto pegou carona com o pai do amigo --o mesmo que depôs hoje--
para voltar do colégio até sua casa. No meio do caminho, que viu o carro da
mãe, pediu para descer, foi até o veículo e retornou para o carro do amigo. A
polícia acredita que Marcelo foi até o carro da mãe para pegar um revólver
calibre 32, de propriedade do avô dele, que foi encontrada dentro da mochila do
garoto.
'Tudo
leva a crer que foi o garoto'
O
delegado-geral afirmou que "tudo leva a crer" que o garoto matou os
familiares e depois se suicidou, mas disse que as investigações ainda estão em
andamento. "Nossa presunção inicial parece que está se confirmado, e tudo
leva a crer que o garoto matou os pais e se suicidou."
LEIA
MAIS
Mãe foi
dominada antes de ser alvejada
Filho de
PMs mortos era calmo e carinhoso, segundo parentes
Tio de
garoto suspeito de assassinar família em SP questiona versão da polícia
Segundo
o delegado, a pistola .40, que era da mãe e que matou os cinco, foi encontrada
na mão esquerda de Marcelo, que levou um tiro do lado esquerdo da cabeça.
Franco afirmou que a polícia tem "certeza" de que o garoto é canhoto.
Exame residuográfico realizado pela perícia não identificou pólvora nas mãos do
garoto, mas, de acordo com o delegado, isso é comum em virtude do tipo de arma
utilizada.
O
delegado explicou que a perícia identificou que o pai, a avó e a tia avó de
Marcelo estavam de bruços, em posição de quem dormia profundamente, quando
foram mortos. Já a mãe estava de joelhos, em posição de submissão, com os
braços em frente à cabeça, o que indica que ela estaria acordada na hora do
crime.
"Isso
já nos chamou a atenção porque não é usual". Para Franco, se fosse um
crime encomendado, "fatalmente teria briga, ou qualquer coisa do
tipo". "Não foi isso que evidenciamos. Houve ali alguma coisa muito
particular, muito familiar."
Franco
afirmou que fios de cabelo foram encontrados na mão de Marcelo e serão
periciados, a exemplo do computador do garoto, das armas e do Corsa sedan. A
perícia já coletou sangue das vítimas para saber se elas foram sedadas. O
resultado deverá sair entre 20 e 30 dias.
No
quarto de Marcelo, foram encontradas, segundo o delegado, "muitas armas de
brinquedo", um coldre de ombro, feito com fitas, e um escudo de papelão
imitando o utilizado pela Tropa de Choque. "Inconscientemente ele já vinha
desejando essa atração por armas."
Marcelo
tinha diabetes e fibrose cística, uma doença genética ainda sem cura, mas que
se diagnosticada precocemente e tratada de maneira adequada, permite ao
paciente ter uma vida praticamente normal. A polícia diz que não há indícios de
qualquer relação entre a doença e a motivação dos crimes.
Os
corpos foram liberados hoje pelo IML (Instituto Médico Legal) e já foram
velados no cemitério Gethsêmani, em Anhanguera, zona norte da capital. Com
exceção do corpo da tia de Andreia, sepultado no mesmo cemitério, os demais
seriam todos enterrados em Rio Claro (173 km de São Paulo).
Nenhum comentário:
Postar um comentário